Ele estava sentado à mesa, aparentemente ansioso. Seus olhos
verdes folha seca percorriam o ambiente constantemente, mas ele não me viu. Eu
não permitia. Por não nos encontrarmos a alguns anos, o meu cabelo que era
castanho estar vermelho, os óculos escuros enormes e as roupas diferentes do
habitual, ele não sabia que era eu, a garota que estava na mesa enfrente à sua.
Ele começou a ficar nervoso. Jogava os cabelos para trás, revirava os olhos
impacientemente, mexia os lábios em murmúrios inaudíveis, batia os dedos
harmonicamente na mesa e checava o celular mais que o necessário. Deixei um
sorriso escapar. Saber que ele estava ali me deixava com uma sensação gostosa,
depois de tanto tempo. Quem diria que ele estaria ansioso para me encontrar?
Mas ele não iria. Ele iria se decepcionar. Ele desejara me encontrar, como
tantas vezes eu desejei encontra-lo, e ele se ausentou. Meu coração me implorava
para ir até ele e abraça-lo, porém meu lado racional não permitia. Meu orgulho
também não. Ele me deixara demais. Ele foi sem se despedir muitas vezes para eu
simplesmente sorrir e dizer que esta tudo bem. Não, o sabor da vingança era
doce em meus lábios, e por mais que eu soubesse que havia algo mais doce a
saborear, permiti o meu orgulho decidir.
Ele parecia estar melhor que eu, ao menos ele não tinha que
resistir à vontade de correr até mim, afinal, ele não sabia que era eu. A
garota que ele esperava logo em sua frente. Será que ele desistiria de nós se
soubesse? Talvez. Mas ele já desistiu tantas vezes. Quantas foram as situações em
que o desejei comigo? Acho que demais para serem contadas.
Ao sair do meu transe, percebi que ele olhava diretamente
para mim curioso. Um pouco assustada, mesmo que com a minha “fantasia”, abaixei
a cabeça e fingi mexer no celular.
Ele se levantou bruscamente e saiu. Acho que o meu atraso de
uma hora para o nosso encontro o irritou um pouco. Sutilmente, o segui.
- Por que você faria isso comigo? – perguntou ele,
surpreendendo-me.
Continuei andando e procurando alguma garota parecida
comigo, mas aparentemente aquela rua estava vazia. Continue andando, como se
não fosse com você, pensei.
- Para de achar que sou idiota Alice. Cabelo novo e óculos
escuros não te deixam diferente. E não esqueça que você tem facebook e eu nunca
esqueceria a sua face, mesmo com o tempo.
Fiquei estática. Definitivamente, não esperava por isso.
- Não vai se defender? – perguntou.
Apenas abaixei a cabeça. Eu sei deveria continuar andando
que ele acharia que cometera um engano. Mas meus pés não se moviam.
- Por favor, me dê qualquer desculpa estúpida e inventada. –
implorou, enquanto eu continuava calada.
Então, ele se aproximou, tanto que eu pude sentir sua
respiração movendo minha franja levemente. Em um gesto desesperado ele me
abraçou, e pude sentir que seu rosto estava molhado. Supus que fossem lágrimas,
mas não tive coragem suficiente. Quis retribuir o abraço, mas não tive força
suficiente, e eu já estava à beira das lágrimas. Ele me soltou e se afastou,
enquanto eu continuava parada.
- Eu esperava mais de você – disse ele com a voz embargada
pelo choro – Gostaria de saber o porquê, mas acho que foram emoções demais para
um único dia. Adeus Alice.
- Bom, ao menos desta vez você se despediu. – disse enquanto
ele ia embora.
- É porque as outras vezes não eram despedidas.